segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sabedoria 'indígena'

Em tempos de comemorações, de homenagens ao "índio", vai aí uma pílula de sabedoria indégena.
Trata-se da transcrição de um diálogo de Jean de Léry com um nativo do território brasileiro, ocorrido no século XVI, que consta em sua obra (do francês Léry) História de uma viagem à terra do Brasil, originalmente publicado em 1578, com o autor já de volta à Europa.

Diálogo de Jean de Léry com um nativo

“Uma vez, um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? –Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. –Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentou depois de compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem rico de que me falas não morre? –Sim, disse eu, morre como os outros.

[...] e quando morrem, para quem fica o que deixam? –Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos. –Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.” (Jean de Léry, Viagem à terra do Brasil, pp.169-70)

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