segunda-feira, 21 de junho de 2010

Em tempos de Copa...

Em tempos de Copa do Mundo, jabulanis pra lá e vuvuzelas pra cá, é interessante juntar conteúdo ao evento. Ainda mais em se tratando de África. E de África do Sul, ainda por cima, país que protagonizou algumas das maiores injustiças da história.
O texto que reproduzo aqui é de autoria de Jurandir Soares, e foi veiculado no Correio do Povo do dia 13 de junho.


África do Sul: a festa e o apartheid

No momento em que a África do Sul concentra as atenções do mundo inteiro para a grande festa que é a Copa do Mundo de futebol, é sempre importante lembrar uma situação vivida por aquele país que, assim como o Holocausto, não se quer ver repetida em nenhuma parte do mundo. Falo do apartheid, o nefasto regime que separava brancos e negros. Fosse em campo de futebol, teatro, cinema ou mesmo numa praça, negros sentavam de um lado e brancos de outro. Os negros não tinham direito a voto e se quisessem se deslocar de um lugar para outro, dentro de seu próprio país, precisavam de uma autorização especial. E até dez bantustans - pequenos territórios - foram criados para que negros ali ficassem confinados, ficando todo o restante da rica área do país para os brancos. O apartheid impedia o acesso dos negros à propriedade da terra, à participação política e às profissões melhor remuneradas.

Tudo começou lá pelo século XVII, quando a terra dos zulus, zhosas e bosquímanos passou a ser colonizada por imigrantes holandeses, os bôeres, os quais passaram a considerar a região como sua pátria, tendo criado até um idioma próprio, o africâner. Este domínio foi quebrado pela chegada dos ingleses, em 1806. Eles tomaram a cidade do Cabo e fundaram duas repúblicas independentes, o Transvaal e Orange. Como decorrência, veio a Guerra dos Bôeres, travada de 1899 a 1902, resultando na vitória dos ingleses. Os estados bôeres foram anexados pela Coroa britânica e, em 1910, juntaram-se às colônias de Cabo e Natal para constituir a União Sul-Africana.

Depois disso, bôeres e ingleses passaram a cooperar uns com os outros para estabelecer a dominação sobre os negros, que constituíam a grande maioria da população. Esta política de segregação racial foi se implantando aos poucos e acabou por ser oficializada em 1948, com a implantação do apartheid. O responsável foi o Partido Nacional, que chegara ao poder e iria dominar a cena nacional por cerca de 40 anos.

A oposição ao regime começou na década de 50, com o lançamento de uma campanha de desobediência civil pelo Congresso Nacional Africano - CNA, organização liderada por Nelson Mandela. Este seria preso em 1962 e condenado à prisão perpétua e sua organização colocada na ilegalidade, depois de uma manifestação que ficou conhecida como o "Massacre de Sharpeville", quando 67 negros foram mortos. Dois fatores colaboraram para o enfraquecimento do apartheid: o término da colonização portuguesa na África, em 1975, e a queda do governo de minoria branca na Rodésia - atual Zimbábue - em 1980. Além das pressões internacionais, que deixavam, por exemplo, a África do Sul fora das competições esportivas. E as sanções econômicas internacionais, que levaram à crise da economia. Em 1989, assumiu o governo Frederick de Klerk, que no ano seguinte libertou Mandela e recuperou a legalidade do CNA. Em 1992, ele coordenou um plebiscito entre os brancos que levou ao fim do regime de segregação racial. O próprio Mandela viria a se tornar o primeiro negro a ser presidente do país. Graças a isso, hoje a África do Sul pode estar em festa.

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