segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pinheiro Machado e a arte da morte

Num junho como este, mas há exatamente 100 anos atrás, o jornal Correio do Povo trazia um anúncio pomposo e pouco convencional para os tempos atuais (escrito aqui com a grafia original, da época):

"Por ordem do governo do Estado, a Secretaria de Obras Publicas está chamando concurrentes para a construcção de um mausoléu, no cemitério desta capital, para o tumulo do Senador Pinheiro Machado. As propostas, que deverão ser apresentadas até o dia 8 de agosto proximo, far-se-ão acompanhar do respectivo projecto, feito pelo proponente em desenho ou maquette. Os proponentes declararão o preço total pelo qual executam o trabalho e o prazo para sua conclusão e farão acompanhar suas propostas da caução feita no Thezouro do Estado, da importancia de 200$000 para garantia da assignatura do contrato. O tumulo deverá occupar a area de 5m,30 x 2m,90."

Na época a inesperada morte do poderoso senador gaúcho completava nove meses (será assunto de outro post, em seguida), e pretendia-se homenagear a importância do mesmo com uma obra tumular à sua altura.

Vejamos como ficou o resultado final, do escultor Pinto do Couto, merecidamente vencedor da concorrência pública:



 Aqui uma visão geral do túmulo, em foto atual, minha. Claro que, passados 100 anos, muito da cor original se perde. Mas dá para se ter uma noção perfeita da riqueza de detalhes e mais ainda de significados.

Vejamos apenas alguns, dos muitos possíveis de serem identificados:
1. Acima do corpo do Senador, a República, identificada pelo barrete frígio, vela por seu descanso;
2. O corpo do Senador sem camisa faz uma analogia a Julio César (veremos no próximo post por que)
3. Aos pés do morto, a deusa Clio (da História), registra os grandes feitos do morto, preservando-os como exemplo para as futuras gerações (representadas pelo número 4)
5. A república e a origem de Pinheiro Machado são representadas pelo brasão de armas do Rio Grande do Sul
6. O fogo fátuo (aceso), na pira acima representa tradicionalmente, em especial na arte funerária, a perpetuação da memória.

Há mais elementos para analisar, e mais ainda para contemplar. Arte, em qualquer local, fornece muito conteúdo e significado.

Abaixo, mais alguns ângulos para contemplação. Pinheiro Machado encontrou, após a morte, um artista à altura da sua vida!




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